sábado, 13 de março de 2010

Solidão

Tenho uma família enorme, tanto paterna, quanto materna. Tenho muitos amigos e amigas. Sempre fui uma garota rodeada por essas pessoas tão amadas. Raramente eu ficava sozinha e, quando ficava, era por escolha. Sempre ouvi falar muito nessa frase "O ser humano não é feliz sozinho", eu concordava, hoje mais ainda. Mas eu também não achava que viver sozinho era a pior coisa do mundo (sozinho humanamente falando). Também, sempre tive muitas pessoas comigo, até mesmo quando eu queria ficar só. E, algumas vezes, achava ruim porque não conseguia ficar sozinha no meu canto. Eu não seria a melhor pessoa a falar sobre solidão. E quando eu conseguia ficar só era uma festa, colocava o som bem alto, pulava no quarto cantando louvores, ria muito, dormia bastante, orava do jeito que eu gostava de orar, sem ninguém pra quebrar o clima e me tirar a privacidade do meu momento a sós com Deus. Achava ótimo ficar só em casa,
era uma diversão.


Muitas pessoas, em diversas conversas, diziam:
- Ah, eu não gosto de ficar só. Gosto de muita gente ao meu redor, gosto de barulho, de conversas, etc.
Não sei, mas essas pessoas devem ter famílias pequenas, porque eu com minha família gigante tinha pavor a muita zuada, muito movimento em casa, pelo fato de ter gente direto comigo. Muitas vezes, nos almoços de domingo na casa da minha avó, eu me isolava, porque a família é grande e conversa bastante, aí eu preferia ir pro quarto e ficar na minha, sem muita conversa.


Também nunca fui uma pessoa de ficar ligando, mandando mensagens demais...nunca fui muito cuidadosa com minhas amizades. Um erro! Nas férias eu sumia, só encontrava uma grande amiga porque íamos para a igreja juntas, porque se não fosse o fato de sermos da mesma igreja...nem ela eu encontraria. Sinto-me envergonhada ao falar sobre isso, mas é preciso.


Eu não tinha noção do quanto eu estava entristecendo o coração de Deus quando não dava o valor suficiente para as minhas amizades (abençoadíssimas por sinal, todas escolhidas a dedo pelo Senhor) e para minha família linda e grande, também escolhida pelo Senhor.


Sem saber, eu me escondia dessas pessoas. Eu esperava que elas me ligassem, que elas me chamassem pra sair...quando na verdade eu precisava fazer isso, eu tinha que tomar uma atitude. Mas eu estava cega quanto a isso. Eu não entendia que eu também tinha que fazer a minha parte de também cuidar das pessoas da maneira que elas mereciam ser cuidadas. Até mesmo as que eu não tinha uma proximidade...é questão de amor ao próximo. Quão egoísta eu fui.


Enfim, meus três últimos anos no colégio foram abençoadíssimos, glória a Deus por isso. Minhas melhores amigas estudavam comigo, tínhamos um grupo que reunia a galera do terceiro ano e a gente pregava pra eles (muitos descrentes inclusive), fazíamos apresentações de teatro, o pessoal cantava, tudo pra anunciar o Reino e com isso eu ia conhecendo as pessoas.


Esse ano entrei na Universidade, outro mundo, outras pessoas, tudo diferente. Eu sabia que para onde eu fosse, seria plano de Deus, pois ele havia confirmado isso. Mas eu não sabia, ainda, qual seria o plano dele para esses primeiros meses. Eu sempre ficava pensando "Ah, vou fazer a diferença lá na faculdade e tal, pregar a Palavra, chamar o pessoal pra Cristo". Sim, eu ainda busco fazer isso, e com a ajuda do Senhor estou conseguindo, aos poucos, mas estou. Eu achava que ia ser isso, anunciar o Reino e pronto. Mas Deus abriu meus olhos, antes cegos, e me fez enxergar aquilo que não estava claro.


Antes de dizer o que o Senhor, pela sua misericórdia, me fez enxergar, vou dizer como era minha rotina até terminar o terceiro ano e como ela é hoje, ao ter entrado da faculdade.


Antes, eu ia pro colégio de carro com meu pai e meu irmão, sempre conversando. Chegava lá abraçando e conversando com minhas amigas, já conhecia um pessoal do colégio e dava aquele 'oi' e aí começava a conversar e conversar e conversar. Durante as aulas me sentia super à vontade por estar com pessoas conhecidas e amadas na mesma sala. Os intervalos eram os melhores, sempre repletos de muitas risadas e conversas. Depois da aula saía da sala com as meninas e ia almoçar na vovó, o almoço já estava servido (o apartamento da vovó sempre tem muita gente da família e amigos, o almoço é sempre cheio de muita conversa e animação, não só aos domingos). Aí eu almoçava logo e entrava pra dar aquela cochilada, não gostava de ficar muito tempo à mesa porque não queria muita gente conversando perto de mim. Eu gostava do silêncio. Então eu entrava e me trancava no quarto pra dormir. Quando eu acordava, o apartamento já estava vazio e não havia muita conversa. A vovó cochilando no quarto, meu irmão também dormindo e a Mada assistindo televisão. Aí passava o dia lá, doida pra ir logo pra casa ficar quieta, mas só voltava à noite. Durante a tarde, chegava uma pessoa aqui, outra acolá, uma conversa ali e o apartamento enchia de gente novamente. Acho que já falei demais da minha rotina até 2009. Deu pra perceber que era muito boa.


Minha nova rotina, pós entrada na Universidade (2010). Comecei a andar de transporte público (às vezes é até engraçado, já passei por cada coisa), não tenho nenhuma das minhas melhores amigas comigo. Aliás, tem uma, mas raramente nos encontramos porque são cursos diferentes e a universidade é grande demais.

Em vez de ter apenas uma turma, agora são três. Não conheço quase ninguém. Na hora do intervalo às vezes passo só, outras com o pessoal do colégio que também tá na universidade e outras vezes encontro com uma prima. Não tenho mais minhas melhores amigas todos os dias como antes. Na volta, em vez de ir pra vovó, vou pra casa, faço meu almoço, como sozinha, depois descanso, estudo ou não faço nada. Meus pais chegam em casa à noite. Enquanto isso, fico só. E no dia seguinte a mesma coisa. Divertido não?!


O que eu não enxergava era o quanto eu não dava valor às minhas amizades e à minha família. Pelo menos não dava o valor merecido. Hoje eu sinto falta de sentar no chão com minhas amigas e conversar coisas cristãs ou algo que não seja festas, bebidas e o sexo oposto. Esses parecem ser os únicos assuntos das meninas não cristãs e dos meninos também. Sinto falta de dar uma risada sincera por achar a coisa realmente engraçada, como acontecia antes. Sinto falta de ouvir as pessoas e poder aconselhá-las depois baseada no que eu creio, Jesus. Ou simplesmente ouví-las. Sinto falta de um conselho cristão também. Sinto falta de uma conversa de horas e horas, aquela conversa que faz bem, que faz querer continuar conversando, que edifica, não aquela conversa que faz querer sumir porque não quer ficar ouvindo as coisas que não tem nada a ver, não aquela conversa que não agrada a Deus. Gostaria de abraçá-las (amigas) todos os dias como antes e de poder dar o valor que elas mereciam e que eu não tinha dado. Sinto falta de chegar na vovó na hora do almoço e ter alguém pra beijar, pra abraçar, ter a comidinha servida e ter alguém à mesa conversando comigo.


Eu realmente não sabia o que era a solidão, hoje eu posso dizer que conheço um pouco dela e que não gosto nenhum pouco de conviver com ela. Isso logo vai passar! Agradeço a Deus porque ele me abriu os olhos antes que fosse tarde e eu perdesse uns dos maiores e melhores presentes que Ele me deu: amigos e família.


Sabe, com essa fase nova da minha vida pela qual estou passando, Deus me ensinou a dar mais valor às pessoas que me amam, a zelar, a cuidar do meu relacionamento com cada uma delas, coisa que eu não fazia antes. Eu gostava de ser cuidada, mas não de cuidar. Hoje eu gosto de organizar os encontros mensais das amigas, encontrá-las no shopping, conversar, matar a saudade. Hoje eu chego em casa e ligo pra vovó pra saber se tem alguém pra me pegar em casa pra poder ir almoçar e passar o dia por lá.


Antes quando eu ficava só em casa eu fazia uma festa, mas a solidão verdadeira, aquela indesejada, te deixa abatido, triste, oprimido, sem vontade de fazer nada. Mas o Senhor está contigo, mesmo quando você não consegue sentir a Sua presença o tempo todo. E todo esse momento de solidão que você está passando, assim como eu, aproveite para crescer na fé e dar seu testemunho para outras pessoas. Seja sábio e agrade a Deus. Nós crescemos espiritualmente quando passamos por tribulações e tiramos proveito delas.


E eu deixo uma dica para você: cultive suas amizades, zele por elas não quando se sentir só, mas também quando estiver rodeado por elas. Seja bênção na sua família e entre amigos. Seja bênção em todo tempo e em todo lugar. Dê valor ao que Deus lhe deu. Seja grato a Ele por isso.



Deus é bom e a graça dele nos basta!



"O choro pode durar uma noite, mas a alegria vem pela manhã" (Sl 30.5b)





Bia Aragão.

3 comentários:

  1. Esse texto e precioso!
    Parabens!
    Obrigado por seguir nosso blog.

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  2. Dê valor ao que Deus lhe deu. Seja grato a Ele por isso.

    Como sempre Bia você escreve e posta coisas muito valiosas e que acertam em cheio em tudo que você escreve !
    continue assim
    Deus abençoe e seja sempre assim maravilhosa

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  3. "Hoje eu sinto falta de sentar no chão com minhas amigas e conversar coisas cristãs ou algo que não seja festas, bebidas e o sexo oposto. Esses parecem ser os únicos assuntos das meninas não cristãs e dos meninos também. Sinto falta de dar uma risada sincera por achar a coisa realmente engraçada, como acontecia antes. Sinto falta de ouvir as pessoas e poder aconselhá-las depois baseada no que eu creio, Jesus. Ou simplesmente ouví-las. Sinto falta de um conselho cristão também. Sinto falta de uma conversa de horas e horas, aquela conversa que faz bem, que faz querer continuar conversando, que edifica, não aquela conversa que faz querer sumir porque não quer ficar ouvindo as coisas que não tem nada a ver, não aquela conversa que não agrada a Deus. Gostaria de abraçá-las (amigas) todos os dias como antes e de poder dar o valor que elas mereciam e que eu não tinha dado."

    Nossa,pensei que só eu já tinha me sentido assim.Parabéns peloblog,muito abençoador mesmo.Qual curso estás fazendo?Quando der visita lá o meu :www.coisadenathalia.blogspot.com.Deus te abençõe!!

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